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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Doença do Carrapato



 BABESIOSE CANINA

Resumo

Foi diagnosticado com Babesiose um cão, fêmea, 12 anos, SRD, em CC no interior do estado de São Paulo. O tratamento foi baseado nos sinais clínicos e no resultado positivo para o teste de hematozoários. O animal foi tratado com Doxiciclina num período de 28 dias e suplementado devido a anemia apontada pelo hemograma. Após o tratamento o proprietário relatou que a animal apresentava-se saudável podendo concluir que a terapêutica foi efetiva.

Palavras-Chaves: Bebesia sp. Canino. Babesiose. Trombocitopenia. Relato de caso.

BABESIOSIS CANINE

Abstract

Babesiosis was diagnosed with a dog, female, 12 years, SRD in CC, in the state of São Paulo. The treatment was based on clinical signs and positive result for the test hematozoa. The animal was treated with doxycycline within 28 days and supplemented due to anemia indicated by the blood test. After treatment the owner reported that the animal had themselves healthy can conclude that the treatment was effective.

Key words: Babesia sp. Canine. Babesiosis. Thrombocytopenia. Case Reports.


INTRODUÇÃO

            As espécies de Babesia são protozoários do filo Apicomplexa que parasitam os eritrócitos de seus hospedeiros vertebrados, sendo o eritrócito a única célula do vertebrado parasitada. Para os membros do gênero Babesia, a reprodução sexuada ocorre no lúmen intestinal do carrapato e a esporogonia no epitélio da parede intestinal do carrapato. A esporogonia ocorre na hemocele do carrapato, os esporozoitas, por sua vez, multiplicam-se no ovário da fêmea infectando as larvas que iram eclodir de seus ovos. Esporozoítas são também observados em grande quantidade nas glândulas salivares penetrando no próximo hospedeiro quando este for picado pelo carrapato (BOWMAN, 2009)
            São conhecidas duas espécies do gênero Babesia capazes de provocar infecção natural em cães, a B. gibsoni e a B. canis. Esta última é classificada em três subespécies: B. canis rossi, B. canis canis e B. canis vogeli (Kuttler, 1988, Uilenberg et al., 1989).
            Os vetores da babesiose canina são os carrapatos pertencentes à família Ixodidae. Os principais responsáveis pela transmissão da doença são os carrapatos da espécie Rhipicephalus sanguineus, o carrapato vermelho do cão. Outras espécies, como Dermacentor spp., Haemaphysalis leachi e Hyalomma plumbeum, também podem trasmitir o agente (BRANDÃO; HAGIWARA, 2002).
            A forma aguda da doença é a mais comum, enquanto a forma hiperaguda ocorre apenas com as linhagens mais virulentas. A moléstia hiperaguda caracteriza se por choque hipotensivo, hipóxia, lesão tecidual intensa e estase vascular. Ocorre ocasionalmente em filhotes de cães infectados, não tendo sido relatada em animais adultos. Geralmente, observa-se choque, coma ou morte em seguida a menos de um dia de anorexia e letargia, podendo, ainda, ser observada hematúria. A moléstia aguda é caracterizada por anemia hemolítica, trombocitopenia e esplenomegalia. Especialmente em cães jovens ou em adultos infectados por B. gibsoni, podem ocorrer óbitos, mas a maioria dos animais irá recuperar-se. Também são comumente observados anorexia, letargia e vômitos. Podem ser notadas ainda hematúria e icterícia, principalmente em cães infectados por B. canis, podendo ocorrer também linfadenopatia generalizada e edema periorbitário. A anemia hemolítica imunomediada é a principal moléstia a ser diferenciada da Babesiose (TABOADA; MERCHANT, 1997).
As infecções crônicas caracterizam-se por febre intermitente, diminuição do apetite e considerável depleção do estado físico Terminalmente, tornam-se evidentes insuficiências hepática e renal. A B. gibsoni causa, caracteristicamente, doença crônica, apresentando como principal sinal uma anemia progressiva. A diversidade de sinais clínicos observados nas diversas manifestações da babesiose canina provavelmente é devido a infecções mistas, por Babesia spp. e Ehrlichia canis (TABOADA; MERCHANT, 1997).
Em cães com babesiose, é comuns a detecção de anemia regenerativa, hiperbilirrubinemia, bilirrubinúria, hemoglobinúria, trombocitopenia, acidose metabólica, azotemia e cilindros renais. As principais anormalidades hematológicas observadas em animais são a anemia e a trombocitopenia
            A anemia observada geralmente é normocítica normocrômica de baixa intensidade nos primeiros dias após a infecção, tornando-se macrocítica,hipocrômica e regenerativa à medida que a moléstia progride. A reticulocitose é proporcional à gravidade da anemia. Anormalidades leucocitárias são observadas inconsistentemente, podendo ser: leucocitose, neutrofilia, neutropenia, linfocitose e eosinifilia (TABOADA;MERCHANT, 1997).
Por meio da análise citológica do esfregaço sangüíneo ou do aumento do volume plaquetário médio, é possível a identificação da presença de macroplaquetas, a qual, por sua vez, é indicativa de uma intensa trombopoiese, que resulta na liberação acelerada de plaquetas jovens na circulação. Isto exclui a possibilidade de erliquiose canina crônica, onde há diminuição do número de plaquetas circulantes como conseqüência de uma hipoplasia megacariocítica (BRANDÃO; HAGIWARA, 2002).
 Nas infecções de longa duração, as hemácias nucleadas são freqüentemente numerosas, podendo o hematócrito estar abaixo de 10% e a concentração de hemoglobina, abaixo de 3,9 g/dL nos estágios terminais da doença.
O diagnóstico de babesiose é firmado pela demonstração da presença dos protozoários no interior de eritrócitos infectados (TABOADA; MERCHANT, 1997). Os esfregaços sangüíneos são confeccionados com sangue periférico e corados por colorações do tipo Romanowsky, como Giemsa, Wright, Rosenfeld ou Diff-Quick.
Os eritrócitos infectados são grandes e tendem a concentrar-se nas bordas da cauda do esfregaço sangüíneo, enquanto eritrócitos infectados in vivo acumulam-se nos capilares. Desse modo, esfregaços sangüíneos confeccionados a partir dos leitos capilares periféricos na ponta da orelha podem demonstrar maior número dos parasitas (TABOADA; MERCHANT, 1997).
O emprego de técnicas de biologia molecular como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) tem sido de grande auxílio na identificação de animais portadores crônicos da doença, bem como na avaliação da efetividade da terapia enquanto ainda não houve redução dos títulos de anticorpos específicos. Embora ainda seja restrita a centros de pesquisa, esta técnica permite a detecção de material genético do parasita em praticamente qualquer material biológico (BRANDÃO; HAGIWARA, 2002).

RELATO DE CASO

Cão, fêmea, 12 anos, SRD, 7kg, com queixa principal de apatia, anorexia, dispnéia freqüente e um quadro de convulsão.  A vacinação e vermifugação estavam em dia, e não apresentava a presença de ectoparasitas.
Ao exame clínico foi relatado palidez de mucosa oral (FIGURA 1), freqüência cardíaca com 72 bpm, freqüência respiratória com 44 mpm, temperatura retal de 38,6°C, condição corporal magra, hepatomegalia a palpação e linfonodos mandibular, pré escapular e poplíteo normais. O TPC foi de 3 segundos aproximadamente apresentando uma leve desidratação.

 
PAREJA,A



Aos exames complementares observou-se baixo número de hemácias e hemoglobina, hematócrito abaixo dos valores referenciais. Também observou-se na série branca eosinopenia, trombocitopenia e monocitopenia, e aumento no número de bastonetes. Os leucócitos, neutrófilos e linfócitos apresentou-se dentro dos valores referenciais. O Hemograma revelou evidente anemia.
No teste de função hepática avaliou-se ALT/TGP e FA, onde os valores se encontraram normais. O teste de glicemia também apresentou-se normal.
A Pesquisa de Hematozoários foi feito com a coloração de May Grunwald ( Giensa) sendo positivo para Babesia sp.
O Tratamento foi feito com dose única, IM de Diaceturato de diminazeno, e Doxiciclina 10mg/kg/IM, BID. Após esses medicamentos recomendou-se por 28 dias o uso oral de Doxiciclina e Cimetidina, BID. Também foi recomendado o uso oral de ácido fólico, ferro quelatado e suplementação com Vit B6 e B12, bem como Silimarina uma vez ao dia.
Com o término do tratamento o paciente já se encontrava bem e os parâmetros dentro das normalidades, se alimentando e bebendo água normalmente. 

PAREJA, A


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Toda a patogenia da babesiose está relacionada à hemólise intra e extravascular, ocasionada por esta multiplicação do parasita no interior dos eritrócitos. Com o rompimento das células parasitadas, além de causar anemia, ocorre liberação de hemoglobina, o que gera hemoglobinúria e bilirrubinemia. (NELSON; COUTO, 2001; SÁ, 2007).
O hematócrito (VG) baixo indica anemia, e hemólise. E o aumento de bastonetes sugere um desvio a esquerda.
A trombocitopenia ainda não tem uma causa completamente esclarecida, mas acredita-se que a destruição mediada por anticorpos e o consumo acelerado em decorrência de uma reticulite endotelial ou do sequestro esplênico sejam os mecanismos mais prováveis (BRANDÃO; HAGIWARA, 2002).
A fase hiperaguda e aguda da infecção também resultam em febre, evoluindo para o aparecimento de mucosas pálidas, perda de apetite, depressão, petéquias e hepatoesplenomegalia, dependendo do estágio de infecção (ALMOSNY; MASSARD, 2002;CORREA et al., 2005).

Tabela 1 – Hemograma Canino
Série Vermelha
28/09/2013
26/10/2013
Valores Referenciais
Hemácias
2,26 milh/mm³
6,20 milh/mm³
5,5 a 8,5
Hemoglobina
5,40 g/dl
13 g/dl
12,0 a 18,0
Hematócrito
16,6%
37%
37 a 55
V.G.M
73,5 u³
74,5 u³
60 a 77
H.G.M
23,9 pg
23 pg
19 a 23
C.H.G.M
32,5%
32,5%
32 a 36

Série Branca
28/09/2013
26/10/2013
Valores Referenciais
Leucócitos
9.000 mm³
9.050 mm³
6.000 a 18.000
Bastonetes
450 mm³
250 mm³
0 a 300
Segmentados
6.840 mm³
6.800 mm³
3.000 a 11.500
Eosinófilos
90 mm³
120 mm³
100 a 1.200
Linfócitos
1.530 mm³
1.600 mm³
1.000 a 4.800
Monócitos
90 mm³
150 mm³
150 a 1.350

Plaquetas
28/09/2013
26/10/2013
Valores Referenciais

67.000 mm³
230.000 mm³
160.000 a 430.000


Tabela 2 – Exame Bioquímico


28/09/2013
26/10/2013
Valores Referenciais
FA
71,0 U/l
-
20 a 156 U/l
ALT / TGP
29,0 U/l
-
20 a 86 U/l
GLICOSE
79,00 mg/dl
-
70 a 110 mg/dl


Tabela 3 – Pesquisa de Hematozoários

Pesquisa de Hematozoários
28/09/2013
26/10/2013
Valores Referenciais
Babesia sp
Positivo
Negativo
Negativo

A doxiciclina pertence ao grupo das tetraciclinas e, apesar de ser um antibiótico bacteriostárico, por inibir a síntese protéica dos microorganismos sensíveis, também possui ação antimicrobiana sobre alguns protozoários. Uma recomendação é que a doxiciclina não seja administrada conjuntamente a uma suplementação de minerais, especialmente o ferro, devendo se respeitado um intervalo de duas horas entre a administração de um e de outro. Isso porque interação deste fármaco com minerais como cálcio, ferro, magnésio, zinco e alumínio pode prejudicar sua absorção, pelas tetraciclinas formarem quelatos insolúveis com estes minerais (OUROFINO, 2009).
 A Cimetidina é um antagonista de receptores H2, usado no tratamento e profilaxia de úlcera duodenal, estados gástricos hipersecretórios, profilaxia do sangramento digestivo em pacientes graves, refluxo gastro-esofágico e inibe a secreção basal de ácido gástrico, reduzindo tanto o volume quanto o conteúdo de ácido e de pepsina da secreção. Com isso evita vômitos causados pelo antibiótico, aumentando a eficiência do tratamento.
A suplementação foi importante devido a anemia que o paciente apresentava, e serviu como reposição de nutrientes já que ela estava debilitada e com deficiências destes. A Silimarina  é um composto extraído do fruto da Silybum marianum, e foi utilizado como hepatoprotetor.
O sucesso para a recuperação do paciente em questão deveu-se à observação do proprietário em perceber que o seu animal de estimação não estava normal e a disposição para cura-lo. O tratamento com Doxiciclina demonstrou boa eficácia no tratamento do animal com diagnóstico de Babesiose. A terapia de apoio também foi fundamental para amenizar os efeitos colaterais da droga utilizada.
CONCLUSÃO

Portanto, a babesiose canina é uma doença grave, e tem evolução rápida, geralmente de caráter agudo, e que exige diagnóstico precoce e a terapêutica adequada. Para o tratamento é necessário empenho e dedicação, pois o animal se apresenta frágil.
É uma doença cosmopolita e todo o médico veterinário atuante na área clínica, deve se manter atualizado sobre as áreas de risco, novos métodos de diagnóstico e técnicas terapêuticas, para assim amenizar o impacto desta doença nos caninos.

REFERÊNCIA

BOWMAN, D.D.; Lynn, R.C.; Eberhard, M.L. & Alcaraz, A. (2010) Parasitologia Veterinária de Georgis. Tradução de 9a edição (2008). Elsevier.

BRANDÃO, L. P.; HAGIWARA, M. K. Revisão: Babesiose canina. Revista Clínica
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<http://www.tecsa.com.br/media/file/pdfs/palestras%20Jornada%20PET/Diag_%2e%20tratamento%20das%20Hemoparasitoses%20Dr%20Leonardo%20Brandao%202010.pdf>. Acesso em: 29 set 2013.

COUTO, C.G. Doença riquetsiais. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Manual Saunders clínica de pequenos animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2003. p.138-143.

KUTTLER KL. World-wide impact of babesiosis. In: Ristic M. Babesiosis of domestic animals and man. CRC Press, Boca Raton, 1988. 22p.

MADEIRA, A.P.; SIMÕES, D.M.N.; MONTEIRO,S.B.;MAGALHÃES,A.I.;GIMENES, T.B.; CORRÊA, T.P.; JORGE, R.C.; PONCE, F.G. Trombocitopenia imuno-mediada em cão. Disponível em:
 <http://www.hospitalveterinariopompeia.com.br/download/trombocitopenia.pdf>.
Acesso em: 29 set 2013.

NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Fundamentos de medicina interna de pequenos animais. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

OUROFINO. Tratamentos com doxiciclina associada a suplementos vitamínicos minerais em cães e gatos. Boletim Técnico Doxifin / Metacell, 2009. Disponível em:
<http://www.ourofino.com/portal/files/espaco_veterinario/Boletim_Tecnico_Doxifin_Metacell.pdf>.
Acesso em: 29 set 2013.

PINTO, R.L. Babesiose canina – relato de caso. Monografia de Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais, Universidade Federal Rural do Semi Árido – UFERSA, Departamento de Ciências Animais, Porto alegre, 2009. 26p.

TABOADA, J; MERCHANT, S. R. Infecções por protozoários e por outras causas. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. 4.ed. São Paulo: Editora Manole, 1997. v.1, cap. 68, p. 563-565.

UILENBERG G, Franssen FFJ, Perié NM. Three groups of Babesia canis distinguished and a proposal for nomenclature. Vet Quart 1: 33-40, 1989.